Este foi um dos objetivos do projeto “Contos Tradicionais em Rádio para Crianças”, que decorreu entre maio e dezembro de 2021, durante uma das vagas do Covid-19 em Moçambique, mas que não foi suficiente para travar a determinação de Isabel Jorge, produtora de teatro, e Eliana N’Zualo, escritora, de materializar uma antiga ideia de parceria na área da cultura.
“Eu como escritora e artista multidisciplinar, em conversa com a atriz e produtora Isabel Jorge, que trabalha há muitos anos com o teatro e faz parte da Companhia de Teatro Mbeu, sempre falávamos sobre literatura infantojuvenil (…) Eu tenho um livro infantil e a Isabel trabalha justamente com teatro infantil”, disse N’Zualo, acrescentando que “sempre houve este interesse de fazermos algum tipo de colaboração”.
A grande oportunidade surgiu quando o PROCULTURA, um programa financiado pela União Europeia e, cofinanciado pelo Camões, I.P., no âmbito do Programa dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste com a União Europeia (PALOP-TL/EU), lançou oportunidades de financiamento de projetos na área cultural. “Acho que foi a Isabel que me contactou e disse: olha, temos aqui este fundo e já falamos várias vezes de uma colaboração, que tal pensarmos então num projeto, porque temos já este interesse pelo público Infantojuvenil (…)”, revelou N’Zualo em entrevista ao Programa dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste com a União Europeia (PALOP-TL/EU), no dia 07 de maio corrente, na Fortaleza de Maputo, à margem das celebrações do Dia da Cooperação entre a UE e Moçambique.
Com um financiamento de 10,000 Euros, Eliana e Isabel conceberam o projeto com o propósito de “facilitar o acesso à literatura, seja através do teatro, seja através da escrita, com o intuito de resgatar a tradição oral, aproveitando o potencial da rádio, para trazer contos infantis para as crianças.”
Um dos grandes desafios enfrentados pelo projeto foi o facto de o mesmo decorrer a meio da pandemia do Covid-19. Depois de este ter sido aprovado, veio a dura realidade. Como materializá-lo a meio de várias restrições impostas na sequência da pandemia? “Felizmente, por ser um projeto que não implica muito contacto físico, uma vez que é na rádio, foi mais ou menos fácil adaptarmos”, disse N’Zualo, indicando que o “constrangimento foi mais durante a gravação, quando tivemos de juntar os artistas.”
O projeto teve duas fases: a primeira foi mais de pesquisa e seleção dos contos tradicionais, transformá-los em guiões, depois traduzi-los do Português para o Xichangana, Emakua e Lomué. A segunda consistiu na gravação destes contos. “Este foi o grande desafio, juntarmos os atores no estúdio e observar o distanciamento físico para podermos ensaiar, gravar (…) ”, disse, acrescentando que um total de 16 atores e atrizes estiveram envolvidos no processo, incluindo técnicos de som. A fase posterior envolveu as rádios comunitárias que foram pagas para “abrirem espaço nas suas grelhas de programação para estes contos.”
Em relação ao impacto do projeto, N’Zualo foi cautelosa, indicando que era suspeita para falar sobre o assunto, mas acredita que foi um sucesso. “Sou suspeita para falar. Diria que o impacto é positivo, mas ainda falta muita coisa”.
Ela apelou às entidades de boa-fé no sentido de continuarem a subsidiar os conteúdos para que as crianças continuem a ter acesso às gravações. Pediu também apoio às entidades de boa-fé para a continuação da pesquisa com vista a resgatar os contos tradicionais para “podermos gravar muitos mais, traduzir noutras línguas bantu porque, de facto, são muitas as crianças que não têm acesso à literatura Infantojuvenil.”
“Aquilo que fizemos, eu considero um sucesso, mas ainda tenho a noção de que é pouco e precisamos fazer muito mais”, sublinhou.
Para o futuro, N’Zualo espera que mais entidades nacionais, incluindo empresas, abracem este tipo de iniciativas porque “os artistas têm muitas ideias e muita vontade de trabalhar (…) ”
“Não podemos esperar somente dos nossos parceiros de cooperação internacionais”, disse ela.